Como a ciência sabe que o coronavírus não é de laboratório

Teorias de que a China teria criado o vírus em laboratório circulam pelas redes sociais.

Há quem teorize que o SARS-CoV-2 foi fabricado artificialmente como uma arma biológica

Mesmo após meses de pandemia, a origem do novo coronavírus (SARS-CoV-2) ainda é motivo para polêmicas. A ideia mais aceita é que o vírus tenha surgido em animais silvestres e se disseminado a partir de mercados da cidade de Wuhan, na China. Contudo, uma teoria alimentada pelas tensões globais afirma que a doença foi desenvolvida propositalmente em laboratório para ser uma arma biológica. Isso seria possível?

A resposta, de acordo com estudos da comunidade científica, é que nada leva a crer que a Covid-19 seja artificial. Se alguém quiser infectar humanos de propósito com um novo vírus, essa pessoa não será capaz de começar do zero, visto que não é possível projetar um organismo.

Portanto, é preciso escolher um vírus já existente e modificá-lo para que ele possa adentrar células humanas e se tornar mortal. Tais alterações deixariam marcas bem específicas no RNA do vírus, diferentemente das mutações orgânicas causadas pela evolução natural.

No SARS-CoV-2, por exemplo, a proteína mais óbvia a ser modificada é a que dá ao vírus o aspecto de coroa (daí o nome). Chamada de “spike”, a proteína em questão se projeta para fora do organismo para reconhecer a ACE2, uma proteína das células humanas que trabalha para regular a pressão sanguínea. Ao se conectar com a ACE2, o novo coronavírus adentra a célula e adoece o infectado.

Se a spike fosse o resultado de uma modificação artificial, os cientistas poderiam detectá-la. No entanto, um estudo de 2015, conduzido pelo Laboratório de Virologia de Wuhan, já havia mostrado que uma nova versão da proteína – essa capaz de invadir células humanas – estava circulando em coronavírus de morcegos.

Após o estopim da pandemia, um artigo controverso foi publicado na bioRxiv, plataforma que permite a publicação de estudos sem revisão, especialmente em momentos de urgência como agora. Segundo a pesquisa, foram encontrados quatro trechos mal explicados no RNA da spike do SARS-CoV-2. A informação causou alvoroço na comunidade científica, mas logo foi desmentida por diversos outros profissionais da área.

Concluiu-se, então, que o novo coronavírus é decididamente orgânico, afinal, possui muitas características jamais vistas e inexplicáveis. Um vírus artificial se pareceria muito mais com outros já conhecidos.

Fonte: Uol